segunda-feira, 3 de outubro de 2016

#102 - "Suspiros inflamados, que cantais", Luís de Camões

Suspiros inflamados, que cantais
A tristeza com que eu vivi tão ledo,
Eu mouro e não vos levo, porque hei medo
Que ao passar do Lete vos percais.

Escritos para sempre já ficais
Onde vos mostrarão todos co dedo,
Como exemplo de males; que eu concedo
Que para aviso de outros estejais.

Em quem, pois, virdes falsas esperanças
De Amor e da Fortuna, cujos danos
Alguns terão por bem-aventuranças,

Dizei-lhe que os servistes muitos anos,
E que em Fortuna tudo são mudanças,
E que em Amor não há senão enganos.

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