Amores
por desbravar
eu tenho imensos
Como lagos
em fúria
nos luares
Em selvas
do coração
por descobrir
Sem raízes
que me prendam
aos lugares
5/2/98
Dorme, meu filhinho,
Dorme sossegado.
Dorme, que a teu lado
Cantarei baixinho.
O dia não tarda...
Vai amanhecer:
Como é frio o ar!
O anjinho da guarda
Que o Senhor te deu,
Pode adormecer,
Pode descansar,
Que te guardo eu.
Tive uma rosa de fogo
A arder no meu coração.
Ganhou-ma o destino ao jogo
De dias que já lá vão.
-- Rosa vermelha de esperança,
A estas horas sem cor,
Porque me vens à lembrança
Como pecado de amor?
(Cansados, cansam-me passos
Que não dei... por me cansar.
Levo, pesados, nos braços
Os restos dum sonho ao mar.)
Que assim sai a manhã, serena e bela!
Como vem no horizonte o sol raiando!
Já se vão os outeiros divisando,
já no céu se não vê nenhuma estrela.
Como se ouve na rústica janela
do pátrio ninho o rouxinol cantando!
Já lá vai para o monte o gado andando,
já começa o barqueiro a içar a vela.
A pastora acolá, por ver o amante,
com o cântaro vai à fonte fria;
cá vem saindo alegre o caminhante;
Só eu não vejo o rosto da alegria:
que enquanto de outro sol morar distante,
não há-de para mim nascer o dia.
Ai barco que me levasse
a um Rio que me engolisse
donde eu não mais regressasse
p'ra que mais ninguém me visse!
Ai barco que me levasse
sem vela ou remos, nem leme
p'ra dentro de todo o olvido
onde não se ama nem teme.
Ai barco que me levasse
aos tesouros conquistados
por entre esquinas de perigos
dos mil caminhos trilhados.
Ai -- onde? -- que me levasse
bem dentro de um vendaval...
Barco berço, barco esquife
onde tudo fosse igual:
Ai barco que me levasse
toda estendida em seu fundo!
Nesga de céu a bastar-me
toda a saudade do mundo!
Mais feliz do que eu
nossa mútua ausência
já não te dói.