Tão tarde apareceste
na minha solidão!
Onde estiveste
quando esperei por ti?... Talvez não esperasse, talvez não!
Nunca te adivinhei. Por isso hoje não tenho um só amor
que me bendiga.
Sou como aquelas árvores sem flor,
que mal estendem os seus braços, desoladas,
aos caminhantes cheios de fadiga;
ou como aquelas árvores de sombra amiga,
mas que florescem longe das estradas.
Não me dês teu afecto. Bem sei
que não mereço, porque não te esperei.
Põe nos meus olhos teu olhar.
Não sentes medo?
Vou dizer-te -- um terrível segredo:
Não sei amar!
Eu sou como o estouvado jardineiro
que ao vento arremessou as sementes formosas
das violetas, dos lírios e das rosas,
e nunca foi capaz de florir um canteiro...
Sou como o dementado mercador, que, um dia,
abriu a sua loja,
e da porta chamando toda a gente que passa,
dos bens que possuía
se despoja,
dando tudo de graça...
Minha vida, meu sonho, minha alma -- tudo o que eu tinha, dei.
Gastei o coração, que eu supusera infindo,
no amor em que, baldadamente, a tantas outras eu amei...
E quem és tu que vens agora?... Já te reconheci:
és aquela que nunca deveria ter vindo,
pois já não tenho nada
para ti.
Deixa-me só no teu regaço repousar
minha fronte cansada,
para chorar...
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